A intenção dessa entrevista é esclarecer para atletas do Paraná e imprensa sobre as verdadeiras razões que levaram a atleta Curitibana a deixar de competir no Paraná.
AI (Assessoria de Imprensa) - Fale sobre sua representatividade no esporte paranaense.
Pérola - Há anos eu representei os atletas através de uma Associação que criei (Associação dos bodyboarders Profissionais do Paraná) perante a Federação Paranaense de Bodyboard (FPB) para que os atletas pudessem ter voz ativa e voto ativo nas decisões do nosso esporte.
AI - A Associação foi legalizada?
Pérola - Nunca consegui registrar a Associação por falta de dinheiro mas ela existiu por muitos anos e teve voz ativa dentro das reuniões da FPB, sempre levando as necessidades dos atletas. Depois a FPB quis ajudar com as despesas porque precisava ter três associações registradas para fundamentar a federação. Não cheguei a fazer isso porque já estava em desacordo. Com a Associação, muitas vezes consegui mudar regras e ajudar a criar outras no próprio estatuto da Federação. A nossa Associação ajudou muitos atletas a conseguir apoio, patrocínio e até mesmo a viajar. Não posso reclamar da atenção que foi prestada pela FPB por muitos anos, mas hoje posso dizer que deixa muito a desejar.
AI - O que você acha que está faltando?
Pérola - Está faltando um circuito profissional! Isso vem sendo protelado por muito tempo e é um absurdo não existir depois de tantas coisas boas que já aconteceram no esporte aqui no estado. Tentei trazer o profissional para Pontal do Paraná e não consegui porque as regras do estatuto são claras. Mesmo tendo estrutura praticamente bancada pela Secretaria de Esportes de Pontal do Paraná, o custo para ser profissional seria muito elevado, desde taxas de homologação até estrutura mínima exigida. Concordo com a FPB que seria o ideal. Mas precisamos ser realistas, o nosso esporte aqui é extremamente amador! Sei que muitos atletas ficarão revoltados comigo por eu chamar de amador. Temos atletas que são profissionais mas que ainda precisam aprender a lutar pelo esporte como profissionais e não só nas baterias das competições. Apesar de termos atletas de destaque no cenário nacional e até mundial.
AI - De que forma você acha que isso poderia ser resolvido?
Pérola - Acho que a FPB deveria se espelhar na Federação Catarinense de Bodyboard (FECAB) que está no seu segundo ano de Circuito Profissional, com uma estrutura não tão exigente onde todos abrem mão um pouco para que a Principal Atração do Evento que são os atletas comecem a ganhar também...
Não é difícil. A idéia é fazer com que o valor das inscrições sejam voltados para os próprios atletas mas aí não teremos organizadores disponíveis pois estes contam com o dinheiro da inscrição como lucro. Não acho isso errado porque trabalhar de graça não tem sentido...mas então atleta trabalha de graça também? A principal atração do evento não ganha nada?
AI- Tem alguma coisa que você acha que poderia fazer para isso mudar?
Pérola - Hoje não, a não ser mostrar a realidade para todo mundo como estou fazendo agora para ver se alguém muda isso. Fiz tudo que podia, falei com atletas pois era a principal representante deles, fizemos reunião para saber qual seria o nosso pensamento para mudar a FPB e a maioria queria mudanças. Mas na hora de mudar não consegui por conta dos meios burocráticos. O atual presidente usa as leis ao favor dele, mesmo com a insatisfação dos atletas e comissão técnica. Como ele sabe usar bem as leis, todos estão acuados e ninguém tem coragem de bater de frente e mudar isso tudo, assim como a nossa política brasileira. Por conta disso abri mão da Associação e passei para o atleta Sanderson Trevisan pois fiquei muito decepcionada por não conseguir fazer nada. São muitas as desculpas para não termos um circuito pro.
AI- Foi por isso que você abandonou o circuito?
Pérola - Sim e também porque depois de manifestar essa insatisfação, minha relação com o atual presidente ficou muito tensa. Eu participo de campeonatos pelo Brasil todo mas não do nosso estado porque deixa muito a desejar. Infelizmente as poucas lojas e marcas que patrocinam o circuito daqui, dão os refulgos pra a premiação, ou seja, aquilo que não vende, pranchas que estão encalhadas na fábrica e que não são vendidas acabam vindo para a mãos dos atletas, que ainda por cima nem podem usar porque são pranchas de segunda linha.
AI_ - Enfim, como é ser profissional no Paraná?
Pérola - É impossível viver do esporte no Paraná e até mesmo no Brasil e nem sequer podemos contar com premiação alguma para poder ir para outros circuitos como as outras federações fazem. Então se tivéssemos premiação em dinheiro pelo menos parte disso seria resolvido, além de atrair atletas de outros estados. É simples mas alguém tem que abrir mão de alguma coisa e pelo jeito ninguém quer fazer isso.
AI - E a Cbrasb (Confederação Brasileira de Bodyboard), o que acha disso?
Pérola - Eles concordam, sem dúvida. Mas sou muito questionada sobre isso pela FPB. Acontece que a CBRASB também tem muito o que melhorar, mas nem por isso os circuitos estaduais estão deixando de se profissionalizar.
AI - Como é a relação da FPB com a CBRASB?
Pérola - A FPB não é filiada a CBRASB porque o atual presidente não tem uma relação boa com ela, foram muitas divergências e brigas. A CBRASB não reconhece nosso circuito e não teremos um Circuito Brasileiro aqui enquanto a diretoria não mudar. Levei isso até os atletas e por pouco não fui prejudicada por ter revelado isso. Meu trabalho com as escolas do Viva o Verão foi ameaçado caso eu levasse para os atletas o que estava realmente acontecendo no Paraná. Dirigentes ser reuniram e colocaram panos mornos em cima de tudo. Fiquei quieta por muito tempo. Fiquei dois anos fora do circuito. Abandonei o esporte no estado completamente depois de quase 20 anos de trabalho com centros de treinamentos, eventos e até mesmo jornal que fiz circular aqui. Como não me filiei nesses dois anos perdi o direito legal de mudar o esporte. Hoje não posso nem solicitar uma Assembléia Geral, mesmo depois de tantos anos lutando pelo esporte. Mas posso falar o que penso pelo menos.Provavelmente sofrerei retalhações por isso.
AI - Como está a situação atual?
Pérola - Nas conversas internas, componentes da diretoria me pedem para eu não expor nossos problemas. Fiquei quieta por bastante tempo e nada mudou. Na verdade parece que ninguém tem vontade de mudar as coisas e ficam empurrando com a barriga porque ninguém está afim de brigar por isso. Acho que os atletas ainda não se deram conta do que estão perdendo. Mas eles vão perceber, o tempo vai mostrar e então eles vão querer mudar e se eles quiserem estarei pronta para ajudá-los. Mas não me filiarei e não vou fazer parte da FPB até que a diretoria mude.Gostaria de esclarecer que nenhuma briga minha é pessoal. É política e profissional. Não tenho nada contra nenhum dirigente. Sempre tive uma relação de amizade grande com todos. Mas quando eu manifestei as insatisfação minha e dos atletas, criei inimizades e muitos passaram a falar que a minha briga era pessoal com o presidente. Nunca briguei com ele, inclusive por sermos amigos na época, ele foi a primeira pessoa que eu disse que iria manifestar que queria mudanças. Ele não acreditou que eu faria isso, mas eu fiz. Não me arrependo, rezo por mudanças e estou muito triste de ver o esporte desse jeito. Ele nunca aceitou e a nossa briga passou a ser pessoal por parte dele.
AI - Mas agora está sendo confirmado o calendário da FPB. O que acha disso?
Pérola - Está confirmado o circuito mais uma vez amador. Quando falamos em Open, isso ainda é amador. As etapas serão sensacionais porque estão sendo realizadas por outros organizadores e apenas homologada pela FPB. O atual presidente está fazendo etapas do surf, porque segundo ele ninguém quer mais patrocinar o Bodyboard no Paraná. Enquanto isso, nosso esporte fica parado. Precisamos de um presidente que movimente de verdade o esporte, que chame a intenção da imprensa. Quem vai querer patrocinar aquilo que não aparece? Mesmo 8 anos de trabalho terem sido bons, já foram esquecidos pela imprensa...
AI - Sempre foi assim?
Pérola - Não, o atual presidente fez trabalhos lindos aqui no estado. Etapas inesquecíveis com televisão, boa premiação e estrutura. Mas desde que começou a ser questionado sobre alguns pontos do seu trabalho, deixou a desejar e me parece desanimado. Já anunciou que pretende passar a federação para outros, mas na prática não movimenta nada para isso e ainda burocratiza quem quer mudar. Só passa a federação e a documentação para alguém dar continuidade se for do agrado dele. Jamais aceitaria uma chapa criada por mim, pois ficou muito magoado. Provavelmente responderá a esta entrevista dizendo que a Federação está disponível então...coisas desse tipo.
AI - E quanto ao Sul Brasileiro?
Pérola - Sulbrasileiro com apenas uma etapa? Não soa meio estranho isso? Porque ao invés de uma etapa de sulbrasileiro não aproveitam o dinheiro e fazem um Circuito Paranaense Profissional? E só para constar, uma categoria profissional de sulbrasileiro precisa de um ranking profissional do circuito estadual. E se não temos um circuito profissional vamos usar qual ranking? O Ranking open - amador. Por que não prestigiar os atletas locais oferecendo um bom dinheiro de premiação para que eles possam ir para outros circuitos?
AI - Palavras finais..
Pérola - Espero não ser prejudicada com relação aos meus patrocinadores, entre eles a Prefeitura Municipal de Curitiba, mas se isso acontecer, mesmo assim terá valido a pena. Espero não criar mais inimizades por falar o que penso. Eu sei que agora não tenho forças para mudar as coisas, mas eu sei que estou plantando o futuro da geração que nós criamos no nosso e nos outros Centros de treinamento do nosso estado. Obrigada.